quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Mensagem do Papa Bento XVI - 2010

Por ocasião do dia Mundial da Paz celebrado no dia 01 de janeiro de cada ano, o santo padre o Papa, como de costume dá a sua mensagem de paz. Para o ano de 2010, Bento XVI, publicou sua mensagem já no dia 08 de dezembro de 2009 com o título SE QUISERES CULTIVAR A PAZ, PRESERVA A CRIAÇÃO. O título traz a tônica da consciência ambiental que deve ter todo e qualquer ser humano, independente de seu credo, raça ou condição social. [...] é indispensável que a humanidade renove e reforce «aquela aliança entre ser humano e ambiente que deve ser espelho do amor criador de Deus, de Quem provimos e para Quem estamos a caminho.”Assim sua mensagem dá um enfoque todo especial a noção de responsabilidade que deve fazer parte da dignidade humana, na realidade o entendimento da ligação da humanidade com a natureza deve fazer parte dessa dignidade.

«Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?» (Sl 8, 4-5). Contemplar a beleza da criação é um estímulo para reconhecer o amor do Criador; aquele Amor que «move o sol e as outras estrelas».

Preservar a natureza é preservar a própria vida humana, e, ao mesmo tempo, contemplar a natureza é contemplar a humanidade e suas riquezas. Existe uma beleza na humanidade própria da sua interconexão com a natureza. E esta interconexão deve ser mantida a todo custo, para o bem da própria humanidade. É fato que estamos vivendo um tempo de crise, na qual a irresponsabilidade para com o meio ambiente, em nome do progresso ou da industrialização necessária dos países em desenvolvimento, apresenta-se como implacável, de tal maneira que as inúmeras iniciativas de um consenso entre os países para a diminuição das emissões de gases no meio ambiente, tornou-se um dos dilemas mais discutidos da atualidade, sem perspectivas de mudanças significativas.

Hoje, com o proliferar de manifestações duma crise que seria irresponsável não tomar em séria consideração, tal apelo aparece ainda mais premente. Pode-se porventura ficar indiferente perante as problemáticas que derivam de fenômenos como as alterações climáticas, a desertificação, o deterioramento e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento de calamidades naturais, o desflorestamento das áreas equatoriais e tropicais? Como descurar o fenômeno crescente dos chamados «prófugos ambientais», ou seja, pessoas que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se vêem obrigadas a abandoná-lo – deixando lá muitas vezes também os seus bens – tendo de enfrentar os perigos e as incógnitas de uma deslocação forçada? Com não reagir perante os conflitos, já em ato ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais? Trata-se de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício dos direitos humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento.

É sensato pensarmos na preservação do meio ambiente, na economia, na convivência harmônica entre a humanidade e a natureza com um olhar diferenciado para a exploração dos recursos naturais. Quando a humanidade pensa com a real dimensão da sua dependência natural, às buscas por alternativas sem agressões diretas e gritantes para com a natureza surgem prontamente. É lícito usarmos os recursos naturais, é necessário fazê-lo porém com prudência e consciência de que as fontes naturais, muitas delas, não são renováveis e as que são dependem da decisão madura da humanidade em fazê-lo.

A harmonia descrita na Sagrada Escritura entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-se como suas criaturas. Em consequência, ficou deturpada também a tarefa de «dominar» a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação (cf. Gn 3, 17-19). O ser humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus, e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer um domínio absoluto sobre ela.

É urgente uma solidariedade entre as gerações. Trata-se de uma responsabilidade que a geração presente tem em relação às gerações futuras. Não podemos ficar fechados em nós mesmo, o egoísmo gera a morte, se não a morte física a morte da alma, assim se faz necessário pensar globalmente agindo localmente e não somente, pensar nos que virão por amor a nós mesmos, a perpetuação de nossa história.

Cristo crucificado e ressuscitado concedeu à humanidade o dom do seu Espírito santificador, que guia o caminho da história à espera daquele dia em que, com o regresso glorioso do Senhor, serão inaugurados «novos céus e uma nova terra» (2 Pd 3, 13), onde habitarão a justiça e a paz para sempre. Assim, proteger o ambiente natural para construir um mundo de paz é dever de toda a pessoa.
Luiz Santana

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