«Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes?» (Sl 8, 4-5). Contemplar a beleza da criação é um estímulo para reconhecer o amor do Criador; aquele Amor que «move o sol e as outras estrelas».
Preservar a natureza é preservar a própria vida humana, e, ao mesmo tempo, contemplar a natureza é contemplar a humanidade e suas riquezas. Existe uma beleza na humanidade própria da sua interconexão com a natureza. E esta interconexão deve ser mantida a todo custo, para o bem da própria humanidade. É fato que estamos vivendo um tempo de crise, na qual a irresponsabilidade para com o meio ambiente, em nome do progresso ou da industrialização necessária dos países em desenvolvimento, apresenta-se como implacável, de tal maneira que as inúmeras iniciativas de um consenso entre os países para a diminuição das emissões de gases no meio ambiente, tornou-se um dos dilemas mais discutidos da atualidade, sem perspectivas de mudanças significativas.
É sensato pensarmos na preservação do meio ambiente, na economia, na convivência harmônica entre a humanidade e a natureza com um olhar diferenciado para a exploração dos recursos naturais. Quando a humanidade pensa com a real dimensão da sua dependência natural, às buscas por alternativas sem agressões diretas e gritantes para com a natureza surgem prontamente. É lícito usarmos os recursos naturais, é necessário fazê-lo porém com prudência e consciência de que as fontes naturais, muitas delas, não são renováveis e as que são dependem da decisão madura da humanidade em fazê-lo.
A harmonia descrita na Sagrada Escritura entre o Criador, a humanidade e a criação foi quebrada pelo pecado de Adão e Eva, do homem e da mulher, que pretenderam ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-se como suas criaturas. Em consequência, ficou deturpada também a tarefa de «dominar» a terra, de a «cultivar e guardar» e gerou-se um conflito entre eles e o resto da criação (cf. Gn 3, 17-19). O ser humano deixou-se dominar pelo egoísmo, perdendo o sentido do mandato de Deus, e, no relacionamento com a criação, comportou-se como explorador pretendendo exercer um domínio absoluto sobre ela.
É urgente uma solidariedade entre as gerações. Trata-se de uma responsabilidade que a geração presente tem em relação às gerações futuras. Não podemos ficar fechados em nós mesmo, o egoísmo gera a morte, se não a morte física a morte da alma, assim se faz necessário pensar globalmente agindo localmente e não somente, pensar nos que virão por amor a nós mesmos, a perpetuação de nossa história.
Cristo crucificado e ressuscitado concedeu à humanidade o dom do seu Espírito santificador, que guia o caminho da história à espera daquele dia em que, com o regresso glorioso do Senhor, serão inaugurados «novos céus e uma nova terra» (2 Pd 3, 13), onde habitarão a justiça e a paz para sempre. Assim, proteger o ambiente natural para construir um mundo de paz é dever de toda a pessoa.